"Cada alma é pássaro voando com as asas do pensamento" - "... A manhã certamente virá... e Tuas palavras voarão como canções dos ninhos de todas as minhas aves, e as Tuas melodias hão de brotar em flores por todas as aléias dos meus bosques." Tagore
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Aparecimento - Cecília Meireles
(imagem de Sil Falqueto, no Flickr)
A casa cheirava a especiarias
e o copeiro deslizava descalço,
levitava em silêncio,
- anjo da aurora entre paredes brancas.
Crepitava na mesa a manga verde
e a esbraseada pimenta.
O dono da casa era ao mesmo tempo
inatual como um rei antigo
e simples e próximo como um parente.
Sua mulher ainda usava um diamante na narina
e em sua cabeça pousavam muitas coroas
de histórias antigas e canções de amor.
E havia a moça, pássaro, princesa,
com uma diáfana voz de sol e flores,
que apenas sussurrava.
Mas no dia seguinte
haveria talvez uma criança.
(Estava ali mesmo, naquele mundo de ouro e seda,
sob aquela diáfana voz de sol e flores.)
Ia nascer amanhã uma criança.
E a casa, no meio do campo,
estendia mil braços ternos e graves
para o céu, para o rio, para o vento,
para o país dos nascimentos,
à espera dessa criança
nua e pequenina,
que apareceria de olhos fechados
com um breve grito:
já sua alma.
E subiam para Deus fios de incenso, azuis.
(Cecília Meireles - Poesia Completa -
Poemas Escritos na Índia)
........
20 de novembro:
Dia Universal da Criança.
sábado, 8 de novembro de 2008
Pouso Eterno - Clara Leticia
Traços de pássaro nas areias.
Vão com as águas...
Mas o pouso se fez registro
na memória cósmica.
E, fundindo-se às águas,
dançarão para estrelas.
Poesia de Clara Letícia
(Todos os direitos reservados)
Vão com as águas...
Mas o pouso se fez registro
na memória cósmica.
E, fundindo-se às águas,
dançarão para estrelas.
Poesia de Clara Letícia
(Todos os direitos reservados)
sábado, 1 de novembro de 2008
Lei - Cecília Meireles
O que é preciso é entender a solidão!
O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.
O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.
O que é preciso é que os olhos sejam de cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.
O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e, entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual,
de desejo e de desespero.
(1954)
in Cecília Meireles, Melhores Poemas
O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.
O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.
O que é preciso é que os olhos sejam de cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.
O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e, entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual,
de desejo e de desespero.
(1954)
in Cecília Meireles, Melhores Poemas
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