sábado, 6 de dezembro de 2008

(No bosque da solidão - Tagore, Ariston Teles)

Alma amiga,
eu sou um viandante que, movido pelo abençoado ar da benevolência,
venho bater-te à porta do coração.
(...)

Atende, pois, a este apelo:
Sai desse casebre em que as aranhas da dúvida, durante muito tempo, vêm tecendo as teias da angústia que te oprime!
Vem comigo!
Existem, no cenário do Universo, lugares onde a paz é o clima constante e onde a felicidade aparece estuante em todos os corações. (...)
Desapega-te da idéia de que a vida é somente aquilo que se enquadra à tua imaginação.
Vamos! Desperta e banha-te na luz radiante da fé, no caminho da eternidade!
Andando por aí, apreciarás o mar com o seu imenso painel(...)
Observarás pássaros coloridos, de celúricas expressões (...)

As aves sabem entoar músicas que só mesmo os Céus poderiam lhes inspirar...
Tudo no Universo é um cântico de harmonia; desde a simples folha que declina no ramo agreste, ao conjunto luminoso de estrelas no alto da imensidão.

(...)
Dilata os liames do entendimento, e descobrirás que o Bem é a força que rege soberanamente a vida.(...)

Alma querida,
eu sou o anjo da BONDADE. Estarei sempre ao teu lado aguardando o teu querer a fim de oferecer-te o cálice da divina paz.

(Trechos de "No bosque da solidão", in Tagore Além das Estrelas)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Aparecimento - Cecília Meireles


(imagem de Sil Falqueto, no Flickr)

A casa cheirava a especiarias
e o copeiro deslizava descalço,
levitava em silêncio,
- anjo da aurora entre paredes brancas.

Crepitava na mesa a manga verde
e a esbraseada pimenta.

O dono da casa era ao mesmo tempo
inatual como um rei antigo
e simples e próximo como um parente.

Sua mulher ainda usava um diamante na narina
e em sua cabeça pousavam muitas coroas
de histórias antigas e canções de amor.

E havia a moça, pássaro, princesa,
com uma diáfana voz de sol e flores,
que apenas sussurrava.

Mas no dia seguinte
haveria talvez uma criança.

(Estava ali mesmo, naquele mundo de ouro e seda,
sob aquela diáfana voz de sol e flores.)

Ia nascer amanhã uma criança.

E a casa, no meio do campo,
estendia mil braços ternos e graves
para o céu, para o rio, para o vento,
para o país dos nascimentos,
à espera dessa criança
nua e pequenina,
que apareceria de olhos fechados
com um breve grito:

já sua alma.

E subiam para Deus fios de incenso, azuis.


(Cecília Meireles - Poesia Completa -
Poemas Escritos na Índia)
........

20 de novembro:
Dia Universal da Criança.

sábado, 8 de novembro de 2008

Pouso Eterno - Clara Leticia

Traços de pássaro nas areias.

Vão com as águas...

Mas o pouso se fez registro

na memória cósmica.

E, fundindo-se às águas,

dançarão para estrelas.


Poesia de Clara Letícia
(Todos os direitos reservados)

sábado, 1 de novembro de 2008

Lei - Cecília Meireles

O que é preciso é entender a solidão!
O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga
que leva os mortos.

O que é preciso é esperar pela estrela
que ainda não está completa.

O que é preciso é que os olhos sejam de cristal sem névoa,
e os lábios de ouro puro.

O que é preciso é que a alma vá e venha;
e ouça a notícia do tempo,
e, entre os assombros da vida e da morte,
estenda suas diáfanas asas,
isenta por igual,
de desejo e de desespero.

(1954)

in Cecília Meireles, Melhores Poemas

domingo, 26 de outubro de 2008

nos braços do pai - Eder Ribeiro

é para o céu que olho
quando me acho perdido
se busco um guia
sigo as estrelas por onde vou
sem importar qual chão piso
posto que o que me mantém em pé
é a fé que tenho na vida
de encontrar em cada homem, o humano
em cada humano, o divino

m’encontro perdido
abro os braços para o céu
não reclamo, sigo
por ser o pai firmamento e chão
não é derrota o meu destino
o que me eleva e sustenta está acima
e é para o céu que ergo as vistas
vejo os dedos de deus tocarem as minhas mãos
m’encontro nos braços do pai

Poesia de Eder Ribeiro Vogado

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

No século XX

Homem, não vale o cérebro vulcâneo
Votado à ciência que te desconforta,
Na vocação para a matéria morta
Que extravasa, terrível, de teu crânio.

Cogumelo que pensa subitâneo
Emparedado em cárcere sem porta,
Se preferes a espada, que te importa
A grandeza dum átomo de urânio?

Foge à extrema penúria que te aguarda
A inteligência lúbrica e bastarda,
Incauta penetrando abismos tredos...

Não prossigas sem Deus, cindindo os ares!
Ai da Terra infeliz se decifrares
Toda a extensão dos cósmicos segredos!


Augusto dos Anjos
Poetas Redivivos - F. C. Xavier

sábado, 18 de outubro de 2008

Atitude reta... Lao Tse

Atitude Reta, Suposição Para Atos Corretos

Favor e desfavor geram angústia.
Honras geram dissabores para o ego;
Por que é que favor e desfavor geram dissabores?
Porque quem espera favor paira na incerteza,
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor, também paira na incerteza;
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Porque é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego
Não haveria mais dissabores.
Por isto:
Quem se mantém liberto de favores e desfavores,
Liberta-se da idolatria do ego.
Só pode possuir o Reino
Quem está disposto a servir desinteressado,
A esse se pode confiar o Reino.


Fonte: Tao Te King, Tradução de Huberto Rohden

sábado, 4 de outubro de 2008

Microcosmo - Olavo Bilac

Pensando e amando, em turbilhões fecundos
És tudo: oceanos, rios e florestas;
Vidas brotando em solidões funestas;
Primaveras de invernos moribundos;

A Terra; e terras de ouro em céus profundos,
Cheias de raças e cidades, estas
Em luto, aquelas em raiar de festas;
Outras almas vibrando em outros mundos;

E outras formas de línguas e de povos;
E as nebulosas, gêneses imensas,
Fervendo em sementeiras de astros novos;

E todo o cosmos em perpétuas flamas...
- Homem! és o universo, porque pensas,
E, pequenino e fraco, és Deus, porque amas!


(in Poesias - Olavo Bilac. Texto Integral)

domingo, 21 de setembro de 2008

Cantares VIII - Ao Senhor dos Mundos - Lucia Constantino

Tu, que guias a caravana
entre o abissal e o horizonte,
dá-me percepção humana
de reconhecer as fontes.

Tu, que a cada novo dia,
fazes das trevas renascer
a luz dos olhos nos meninos
para Te espelhares
em Teu próprio amanhecer,

depõe orvalho nos meus lírios
para que se transmutem em círios
quando, um dia,
meu ser anoitecer.

Tu, que divides meus caminhos,
em manhã, tarde e ninho,
dá-me a leveza de Tuas brumas,
para que em mim o amor se resuma
em sempre o coração ascender.

Se minha chama interior
ameaçar se consumir
em orgulho, vaidade
e inquietudes,
lembra-me das Tuas cordilheiras,
as altitudes,
para que eu aceite em paz
toda obra Tua que faz
minha pequenez se reconhecer.

Quando a noite negra se revelar
em lágrimas, dores ou desesperança,
segura-me pela mão
e guia-me até um coração
que ainda me ame como lembrança.

A Ti confio

as asas de minhas palavras,
o som dos meus silêncios,
o curso de minhas lágrimas
e todos os rostos dos meus pensamentos.

Poesia de Lucia Constantino
(Todos os direitos reservados)

sábado, 13 de setembro de 2008

Poesia é um outro nome que se dá à Beleza - Tagore

Difícil falar do indefinível,
Apalpar o intocável,
Entender o incognoscível.

Impossível estabelecer conceito definitivo
daquilo que representa a Beleza em evolução.

A flor ressuma poesia em forma de perfume.
A estrela emana poesia em forma de luz.
A alma transmite poesia em forma de amor.

Onde existe vida aí se apresenta Deus,
e se Deus é a Suprema Fonte da Beleza,
em toda parte há poesia.

O verdadeiro poeta é, pois, um místico
que visualiza a Presença Divina nas coisas.
A vida e o mundo são feitos de poesia
e os olhos do poeta são luneta
capaz de focalizar as maravilhas
imanentes a tudo.

Poesia é um outro nome que se dá à Beleza.

(Tagore/ Ariston Teles)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Anima mea - Cruz e Sousa

Ó minh'alma, ó minh'alma, ó meu Abrigo,
Meu sol e minha sombra peregrina,
Luz imortal que os mundos ilumina
Do velho Sonho, meu fiel Amigo!

Estrada ideal de São Tiago, antigo
Templo da minha fé casta e divina,
De onde é que vem toda esta mágoa fina
Que é, no entanto, consolo e que eu bendigo?

De onde é que vem tanta esperança vaga,
De onde vem tanto anseio que me alaga,
Tanta diluída e sempiterna mágoa?

Ah! de onde vem toda essa estranha essência
De tanta misteriosa Transcendência
Que estes olhos me deixam rasos de água?!

http://pt.wikisource.org/wiki/Autor:Cruz_e_Sousa

sexta-feira, 11 de julho de 2008

A Fonte - Victor Hugo

Da espalda de um rochedo, gota a gota
límpida fonte sobre o mar caia,
Mas, ao vê-la tombar em seu regaço:
" O que queres de mim?" O mar dizia.
"Eu sou da tempestade o antro escuro;
"Onde termina o céu aí começo;
"Eu que nos braços toda a terra espreito,
"De ti, tão pobre e vil, de ti careço?...
No tom saudoso do quebrar das águas
Ao mar, serena, a fonte assim murmura:
"A ti, que és grande e forte, a pobre fonte
Vem dar-te o que não tens, dar-te a doçura!"

http://br.geocities.com/edterranova/victor.htm

sábado, 5 de julho de 2008

Viagens? - Tagore

Viagens?
Agradeço seu convite. Procure outra companhia.
Aventuras? Sensações? Não posso, amigo!
São caminhos que podem levar
ao despenhadeiro das frustrações.
É tão lindo o cenário que me cerca!
Além do mais tenho receio
de sair do "meu mundo".
Por favor, deixe-me comigo mesmo.
Estando na minha plenitude espiritual
estarei em toda parte.

(de Tagore Além das Estrelas, psicografia de Ariston S. Teles)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Humildade - Cecília Meireles

Varre o chão de cócoras.
Humilde.
Vergada.
Adolescente anciã.

Na palha, no pó
seu velho sári inscreve
mensagens ao sol
com o tênue galão dourado.

Prata nas narinas,
nas orelhas,
nos dedos,
nos pulsos.

Pulseiras nos pés.

Uma pobreza resplandecente.

Toda negra:
frágil escultura de carvão.

Toda negra:
e cheia de centelhas.

Varre seu próprio rastro.

Apanha as folhas do jardim
aos punhados,
primeiro;
uma
por
uma
por fim.

Depois desaparece,
tímida,
como um pássaro numa árvore.

Recolhe à sombra
suas luzes:
ouro,
prata,
azul.
E seu negrume.

O dia entrando em noite.
A vida sendo morte.
O som virando silêncio.


(in Cecília Meireles, Poesia Completa, volume2, Poemas Escritos na Índia)

domingo, 15 de junho de 2008

"Nunca deixes de cantar..." - Tagore

Cuidado, amigo!

O tumulto da vida moderna
pode ensurdecer tua alma.

Na terra existem máquinas,
mas no céu cintilam os astros.

Nunca deixes de cantar.

A poesia que há nas coisas
é para ser declamada a cada momento.

Faz do teu coração harpa
a refletir a música da Natureza.

Aprende a executar a melodia da paz.
Teus exemplos podem ser notas sublimes.

Os cientistas e tecnocratas
não são mais úteis do que os trovadores de Deus.


(Tagore Além das Estrelas - Tagore/Ariston S.Teles)

entardecer - Velloso

no fim da tarde,
a passarada aflita
se despede do sol
entre galhos dourados
com seus pios e cantos.
bailando suas últimas tarefas,
espera as estrelas.

a coruja
se espreguiça
prepara-se
pra mais uma vigília
o trabalhador
sonha
em retornar
a família
ao descanso
aos amigos.

fim da tarde
minha mão procura a tua
se aquece
se perfuma
pra tocar
e dar
amor.

(Poema de Velloso)

A FLAUTA NA MONTANHA - Lucia Constantino

Era inverno e era verdade.
Sob a névoa rósea do fim de tarde
chegou-me uma hora certa.
A que eu ouvia a flauta
na montanha.
Meu rosto submerso
desfêz-se das cinzas do dia,
e calou-se diante do esplendor.
Séculos emitiram suas vozes
vindas das esferas que fazem
a gente acreditar no eterno
e no verdadeiro amor.

E a escolha do meu cansaço
foi permitir-me mais um abraço
daquela música ao meu redor.
Até que minhas veias se dilatassem
em notas solares e iluminassem
todo o cume da montanha
quando vi que flauta e pastor
eram a minha própria voz.

(Poema de Lucia Constantino )

Ocaso - Ederson Peka

O Sol que se despeja no horizonte
Vai contando de um amor incontável:
Quer deslize por detrás dalgum monte,
Ou apenas se furte ao observável,
Quer de nuvens ornado em elegância,
Ou aterrisse em vôo solo, imponente,
É o arauto do amor que não se cansa,
Que se doa do nascente ao poente,
Que se esvai até o último lampejo,
Que produz arte mesmo em despedida,
E que se oculta enquanto a sombra cresce...
(Mas não morre só porque não o vejo!
Ele atravessa a escuridão da vida:
Quando a noite passa, ele ainda aquece...)

(Poema de Ederson Peka)

Um poema ao Sol - Teresa Cordioli

O poema perfeito
É o poema sem palavras
Aquele escrito pela natureza
Aquele que tem um pôr do sol.
Que tem a cor do céu,
e a beleza das flores...
Que você vê o tamanho do mar
Que te leva às nuvens,
Sem nada ter sido escrito.
Por ter sido criado por Deus,
Penetra na sua alma, o silêncio.
É perfeito,
Basta olhar, para ouvir o silêncio!!!
Ele fala do tempo
Em algum lugar do tempo existe o amor
E como o tempo é eterno
Sempre existirá o amor...

(Poema de Teresa Cordioli )

Vida - Edmundo Xavier de Barros

Nem a paz, nem o fim! A vida, a vida apenas
É tudo que encontrei e é tudo que me espera!
O ouro, a fama, o prazer e as ilusões terrenas
São lodo, fumo e cinza ao fundo da cratera.

Esvaiu-se a vaidade!... Os júbilos e as penas,
A alegria que exalta e a dor que regenera,
Em cenário diverso aprimorando as cenas,
Continuam, porém, vibrando noutra esfera.

Morte, desvenda à Terra os planos que descobres,
Fala de tua luz aos mais vis e aos mais nobres,
Renova o coração do mundo impenitente!

Dize aos homens sem Deus, nos círculos escuros,
Que além do gelo atroz que te reveste os muros,
Há vida... sempre a vida.. a vida eternamente...


(por Francisco Cândido Xavier, em Poetas Redivivos)

sábado, 14 de junho de 2008

Os Estatutos do Homem - Thiago de Mello

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

E-Terno Rei - Ederson Peka

Ao Deus e Pai de perenal ternura,
Em Quem se encontram perdão e justiça,
Se entrega a alma, contrita, submissa,
Rendendo glória e louvor nas alturas.

É Rei dos Reis, é Senhor Soberano!
Os astros mil El'sustém em Suas mãos!
Mas basta um filho pedir-Lhe atenção
Que tudo o mais fica em segundo plano.

Não há palavra capaz de dizer
A imensidão do Supremo Poder
Do Eterno Rei dos domínios do espaço.

E inda maior que todos os poemas
É o dom bendito da Graça Suprema:
O alcance infindo do Seu terno abraço!

(in Poesia Alternativa de A a Z, de Ederson Peka )

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Falai de Deus com a clareza - Cecília Meireles

Falai de Deus com a clareza
da verdade e da certeza:
com um poder

de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não O entender.

Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.

Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.

Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor

à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.

Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus

que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Amor verdade que liberta... incendeia, desperta - Dos Santos

Com lágrimas e histórias, novamente chega a hora.
De levantar e caminhar
Aprendendo com a vida, fazendo dela minha amiga
Elevando minha alma, tocando o céu e as estrelas
Pois o infinito é o meu lugar

Só peço, tua proteção que me ilumina
O teu amor que gera a vida,
Fazendo do amanhecer um novo dia
Para quem quiser recomeçar

Com amor e humildade pelo caminho que se abre
Iniciando um novo ciclo, transformando sentimentos
Sem barreiras ou fronteiras.

Fazendo do amor verdade que liberta,
Transcende, ilumina e desperta
Incendiando a alma, magia bela e eterna
Que junta as partes e volta à luz por vontade.


(Poema de Dos Santos )

Iniciação - Lucia Constantino

Contemplo o que cresce
"à sombra do Onipotente" (*)
Sou pequena flor ao vento
erguendo-se levemente.

Não se oprime meu sonho
junto aos muros de sol.
Conheço os pontos cardeais
do meu sono
o olhar que me guia é farol.

Respiro em meu templo de força
quando as águas todas me envolvem
Tenho meu rosto pleno de luz
em carícias de mãos nobres.

Sou testemunha dos ocasos
nos vastos campos dos céus.
Pequena, forte e frágil
e um coração que vaza
nas mãos de Deus.


(Iniciação-poema de Lucia Constantino)

Eterna Lei - Antero de Quental

A Terra disse ao Tempo:— "Aonde me levas,
Cavaleiro invisível, mudo e errante,
Que a luta me renovas, cada instante,
desde as primeiras formações longevas?

Monstro que me apavoras e me enlevas,
Porque, seguindo a passo de gigante,
Trazes a luz do dia fulgurante
e amortalhas o dia, sob as trevas?!..."

Mas o Tempo clamou: — "Escuta e lida!
Eu sou teu companheiro para a vida,
Impelindo-te aos sóis da eternidade!

Tudo altero em teu seio, pólo a pólo,
Desde as nações aos vermes de teu solo,
Menos a Eterna Lei da Caridade."


((por Chico Xavier, in Poetas Redivivos))

Quando me ordenas que cante - Tagore

Quando me ordenas que cante, meu coração parece
que vai arrebentar de orgulho; olho para o Teu rosto
e meus olhos se enchem de lágrimas.

Tudo que é áspero e dissonante em minha vida
transforma-se numa melodia suave e única, e minha
adoração solta as asas como um pássaro feliz no seu vôo
tranqüilo sobre o mar.

Sei que o meu canto Te dá prazer. E sei também
que só como cantor é que posso ficar na Tua presença.

Toco com a ponta da asa largamente aberta do meu
canto os Teus pés, que nunca aspiro poder alcançar.
E inebriado pela alegria de cantar, esqueço-me
de mim mesmo e chamo-Te amigo, Tu que és meu Senhor.



(de Rabindranath Tagore - Gitanjali - Oferenda Lírica)

Alma Poeta - Daura Brasil

A alma poeta é uma engenhosa expressão de Deus, que guarda dentro de si, palavras silenciosas e sentidas que encerram seus segredos!... Mas, quando desperta para a arte, sente um indescritível deleite em versejar, para acalentar o coração, daquele que, ao compreender suas mensagens, inebria-se tomado de plenitude ou de êxtase.

Ela contempla, incitada pela alegria, o rosicler d’aurora e o pôr-do-sol! A lua cheia afogueada, mergulhada abaixo do horizonte e as estrelas na noite! As flores colorindo os viçosos jardins e campos! As matas fechadas com grandes árvores e arbustos! Os riachos reluzindo um claro azul, os rios com suas céleres corredeiras, ou o magnífico mar! Aprecia ainda a criança brincando alegre em um lindo parque onde esvoaçam pássaros cantantes!...

Enfim, diante de tanta Poesia, a alma poeta desdobra a si mesma!...

Descortina também a tristeza! - então, a melancolia e o desvario se fazem presentes... - pois, anda por todos os caminhos e sofre os desalentos para curar os tristes...

Os momentos transmudam... Mas não o seu amor e a sua aspiração em desvelar os sentimentos, que sequiosos, a conduz até o limiar dos versos...

Porém, jaz no seu âmago, uma solidão infinda... Pois, se percebe incompreendida, como um oceano sem fronteiras e sem limites, que percorre murmurante, revelando os tesouros cristalizados em suas profundezas...

Então, é chamada de alma sonhadora ou alma louca – que transcende a própria emoção... - e na verdade, é apenas minh’alma poeta!


© Daura Brasil, São Paulo - 2005

A luz da Aurora - Lucia Constantino

Minha casa interior
tem pés firmes.
E eles são como relâmpagos
na lembrança dos olhos
que guardaram os céus.
Minha alma é como o vinho
arrancado à vindima
numa manhã de outono
quando as chuvas cessaram
e uma aurora prenuncia
a volta dos perfumes.

Meu Deus interior honra-me
esculpindo em mim um portal
de esperança.
Sei que o pouso do coração
poderá ferir-me...
se não conseguir distinguir
as asas reais dentro do próprio sonho.

Mas a luz da aurora,
inexoravelmente se faz.
E mesmo que o vento ouse tremer
as folhas, dessa luz receberão vida
e somente o amor será a água
que nutrirá a raiz
para que honre o rosto
que a habita.

(poema de Lucia Constantino)

Asas ao tempo - Teresa Cordioli

Queria ser um pássaro voando
Perdendo suas penas ao vento
Levaria, em revoadas
Meus sonhos...

Daria, por eles, asas ao tempo...
E ficaria à espera
De que voltassem
Cantando ao regresso,

Trazendo, lá de cima
A paz e o encanto para meu ninho...


Teresa Cordioli (Asas ao tempo - 1978)

Cada alma é passaro voando com as asas do pensamento... Tagore

Há pássaros que voam alto e assim vêem longe;
outros, porém, plainam em faixas de superfície,
tendo a visão limitada pelas próprias condições.

É assim que se pode compreender a capacidade
intelectual e o comportamento do ser humano.
O ser, quanto mais sobe, mais vê.
Subindo nos espaços da humildade
e do discernimento,
atingirá mais profunda compreensão
da Realidade,
entrando em harmonia com Deus.


(in Tagore além das estrelas - Tagore/Ariston S.Teles)