quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA – Richard Simonetti

(...) o arrependimento sincero, de quem se conscientiza dos próprios enganos e se dispõe a uma guinada existencial, modificando seus rumos, não é fácil. O homem comum distrai-se de suas responsabilidades, sempre pronto a justificar seus desvios com intermináveis sofismas:

- Roubei, sim, e até matei, porque tinha fome – alega o criminoso esquecido das bênçãos do trabalho.
- Enriqueci, sim, mas com meu esforço, com o trabalho digno, sem prejudicar ninguém – proclama o industrial que explorou seus empregados e usou de especulações nos domínios de seus negócios.
- Bebo sim, mas para enfrentar os problemas da existência – explica o alcoólatra, sem atinar para o fato de que se transformou, ele próprio, num grande problema.
- Traí meu marido, sim, envolvi-me em aventuras extraconjugais, porque ele não me dava atenção – afirma a mulher displicente, a justificar sua irresponsabilidade.

Pessoas assim transitam pela vida de consciência anestesiada pela indiferença em relação aos valores morais, para somente despertarem no Plano Espiritual, quando se habilitam a penosas jornadas de retificação.

(...)

No entanto, a mesma displicência moral que faz o delinquente, o explorador, o viciado, o adúltero, induz o espírita a justificar suas omissões:

- O Espiritismo ensina que é preciso praticar a caridade, ajudar o próximo, participar de serviços assistenciais, mas não tenho tempo. Há a família, a profissão, os compromissos financeiros...
- O Espiritismo adverte que devo conter meus impulsos inferiores, mas não consigo. Sou um fraco...
- O Espiritismo orienta que devo harmonizar-me com os familiares. Impossível. São muito difíceis...

Há quem informe:
- Não posso proclamar-me espírita, porquanto tenho muitas mazelas...

Companheiros assim esperam pela virtude para serem espíritas. Ignoram deliberadamente que o espírita não é, necessariamente, um virtuoso. Apenas alguém disposto a assumir compromisso com a virtude.
Acomodados na superficialidade de suas convicções e na rotina de pálida participação em atividades espíritas, verificam, um dia, quando a morte impõe o balanço de sua existência, que tiveram tudo para caminhar mais depressa, para superar suas imperfeições e, no entanto, fizeram do conhecimento veiculado pelo Espiritismo um mero acréscimo de responsabilidade.

(...)


(Do livro “UM JEITO DE SER FELIZ”, de Richard Simonetti. 6ª. Edição, 2002. Editora CEAC.)