domingo, 26 de outubro de 2008

nos braços do pai - Eder Ribeiro

é para o céu que olho
quando me acho perdido
se busco um guia
sigo as estrelas por onde vou
sem importar qual chão piso
posto que o que me mantém em pé
é a fé que tenho na vida
de encontrar em cada homem, o humano
em cada humano, o divino

m’encontro perdido
abro os braços para o céu
não reclamo, sigo
por ser o pai firmamento e chão
não é derrota o meu destino
o que me eleva e sustenta está acima
e é para o céu que ergo as vistas
vejo os dedos de deus tocarem as minhas mãos
m’encontro nos braços do pai

Poesia de Eder Ribeiro Vogado

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

No século XX

Homem, não vale o cérebro vulcâneo
Votado à ciência que te desconforta,
Na vocação para a matéria morta
Que extravasa, terrível, de teu crânio.

Cogumelo que pensa subitâneo
Emparedado em cárcere sem porta,
Se preferes a espada, que te importa
A grandeza dum átomo de urânio?

Foge à extrema penúria que te aguarda
A inteligência lúbrica e bastarda,
Incauta penetrando abismos tredos...

Não prossigas sem Deus, cindindo os ares!
Ai da Terra infeliz se decifrares
Toda a extensão dos cósmicos segredos!


Augusto dos Anjos
Poetas Redivivos - F. C. Xavier

sábado, 18 de outubro de 2008

Atitude reta... Lao Tse

Atitude Reta, Suposição Para Atos Corretos

Favor e desfavor geram angústia.
Honras geram dissabores para o ego;
Por que é que favor e desfavor geram dissabores?
Porque quem espera favor paira na incerteza,
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor, também paira na incerteza;
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Porque é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego
Não haveria mais dissabores.
Por isto:
Quem se mantém liberto de favores e desfavores,
Liberta-se da idolatria do ego.
Só pode possuir o Reino
Quem está disposto a servir desinteressado,
A esse se pode confiar o Reino.


Fonte: Tao Te King, Tradução de Huberto Rohden

sábado, 4 de outubro de 2008

Microcosmo - Olavo Bilac

Pensando e amando, em turbilhões fecundos
És tudo: oceanos, rios e florestas;
Vidas brotando em solidões funestas;
Primaveras de invernos moribundos;

A Terra; e terras de ouro em céus profundos,
Cheias de raças e cidades, estas
Em luto, aquelas em raiar de festas;
Outras almas vibrando em outros mundos;

E outras formas de línguas e de povos;
E as nebulosas, gêneses imensas,
Fervendo em sementeiras de astros novos;

E todo o cosmos em perpétuas flamas...
- Homem! és o universo, porque pensas,
E, pequenino e fraco, és Deus, porque amas!


(in Poesias - Olavo Bilac. Texto Integral)